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Parte I — Pessoas criativas modelam o mundo
O que significa criatividade?
Comecemos pela definição dicionarizada:
cri·a·ti·vi·da·de
nome feminino
- Capacidade de criar, de inventar.
- Qualidade de quem tem ideias originais, de quem é criativo.
- Capacidade que o falante de uma língua tem de criar novos enunciados sem que os tenha ouvido ou dito anteriormente.
In Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: https://dicionario.priberam.org/criatividade
Criatividade é uma capacidade ou habilidade para gerar novas ideias ou conceitos partindo das ideias ou conceitos preexistentes.
Por norma, a criatividade tem como objectivo solucionar um problema, recorrendo à imaginação construtiva e ao chamado pensamento divergente.
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Uma pessoa considerada “criativa” é alguém que se distingue por ter uma aptidão, e talvez uma apetência, para criar e inovar. Pressupõe-se que criamos coisas novas, ou que as criamos a partir da nossa perspectiva única e singular daquilo que nos rodeia.
Neste sentido, o acto de criar relaciona-se com duas esferas principais, pensar e produzir.
Partimos do princípio que a “coisa” criada não poderá ficar apenas na esfera do pensamento, temos de a realizar.
Uma pessoa que não produz com base nas suas ideias não é criativa — será imaginativa, mas não é criativa se não der origem a soluções.
Certamente, conseguirá pensar em algumas personalidades que se destacaram pela sua inventividade, consideradas excepcionalmente criativas.
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As profissões da área da criatividade têm sido historicamente pouco levadas a sério, mas o que seria do mundo sem estas pessoas?
Eis alguns exemplos de pessoas criativas que mudaram o mundo, tornando-o aquilo que é hoje, ou pessoas que são intemporais, e que continuam actualmente a inspirar-nos:
O escritor francês nascido em 1828 foi o pai da ficção científica, tendo criado histórias que incitaram os humanos a viajar até à lua, mergulhar nas profundezas dos oceanos ou tentar desvendar o que existe no centro da terra.
Verne foi o autor de algumas das mais famosas obras literárias do género fantástico, como “Viagem ao Centro da Terra”, “Volta ao Mundo em 80 Dias”, “Vinte Mil Léguas Submarinas” ou “Da Terra à Lua”. Ele inspirou e continua a inspirar cientistas e inventores, sendo que algumas das invenções que utilizamos actualmente foram primeiramente retratadas nas suas histórias ainda antes de existirem, como o submarino ou o foguete espacial.
Nascido em 1847, nos Estados Unidos, Edison foi um dos maiores inventores da história com mais de 2 mil patentes!
A sua invenção mais famosa foi a lâmpada eléctrica, mas também melhorou as invenções de outros, como a câmara de filmar, o telefone e a máquina de escrever.
Nascido em 1879, na Alemanha, Einstein revolucionou os estudos do espaço, tempo, massa e energia. Foi premiado com o Nobel da Física de 1921 e é ainda hoje considerado um dos maiores génios do século XX.
Desenvolveu mais de três centenas de trabalhos científicos, entre eles a famosa teoria da relatividade.
Nascido em 1904, Salvador Dalí i Domènech, foi um proeminente pintor espanhol, e um dos mais conhecidos e determinantes pintores do surrealismo. Dalí desconstruía a realidade como a percebemos e representava-a de forma surreal nas suas obras oníricas realizadas com mestria.
Dalí desenhou um famoso logótipo comercial que todos conhecemos (Chupa Chups), foi estilista, fotógrafo, desenhou jóias e criou capas para a revista Vogue… As suas obras mais famosas e que têm servido de inspiração a milhares de artistas são “A Persistência da Memória” de 1931 e “O Sono” de 1937.
Frida Kahlo foi uma pintora mexicana nascida em 1907 que se destacou pela sua criatividade e singularidade, mas também pelo seu sofrimento e a sua “garra”!
O rosto de Frida é um ícone actual do mundo do marketing e da moda como representativo da força da feminilidade e pode ser encontrado um pouco por toda a parte.
A pintora, casada com o pintor muralista Diego Rivera, desafiou os estereótipos de género com a mesma força com que desafiou a própria doença e incapacidade. Autora de muitos retratos e auto-retratos de cores vibrantes e cheios de vida inspirados na natureza e na cultura mexicana, as suas obras de arte naïf são extremamente expressivas e todas parecem contar-nos a sua história e a história da sua cultura. Exemplos desta expressividade seriam “As duas Fridas”, “A coluna partida” ou “O veado ferido”.
Nascido em 1901 com o nome Walter Elias Disney, o artista criou uma panóplia de personagens inesquecíveis que todos conhecemos e amamos desde crianças, como o Mickey e a Minnie, o Pato Donald, a Margarida e o Tio Patinhas, o Pateta e o Pluto, etc.
As suas mais emblemáticas longas-metragens animadas foram “Branca de Neve e os Sete Anões”, “Pinóquio” e “Bambi”. Foi premiado com 22 Óscares em vida — recorde até hoje não ultrapassado.
Nascido em 1947, David Robert Jones foi um cantor, compositor, actor e produtor musical britânico que se manteve na vanguarda do pop e do rock durante décadas, com incursões emblemáticas no cinema.
Apelidado de “Camaleão do rock” pela sua capacidade se reinventar e encarnar coloridos personagens temáticos, trouxe ao mundo trabalhos tão excepcionais e originais como “Space Oddity”, “Starman” e, claro, “Ziggy Stardust”. Serviu e serve de influência a inúmeros músicos da actualidade.
John Ronald Reuel Tolkien nasceu em 1892 e foi um dos escritores mais criativos do século XX. A sua trilogia de 1949, “O Senhor dos Anéis”, é ainda hoje uma das obras mais conhecidas do mundo, tendo servido de inspiração a milhares de outros artistas, quer no cinema, quer na literatura, na pintura e BD, e até na música.
Além de ter criado um mundo inteiro altamente pormenorizado e complexo — a Terra Média — povoou-o com seres mágicos e fantásticos: hobbits encantadores, elfos elegantes, anões robustos, ogres brutos e árvores sábias que falam…
Considerado um dos realizadores mais geniais da era contemporânea, Timothy William Burton nasceu em 1958, na Califórnia.
Em criança, teve dificuldades de integração e adaptação, tendo-se protegido do exterior no seu próprio universo de fantasia. Fã das obras de Edgar Allan Poe e de filmes de terror, os seus desenhos e produção cinematográfica adquiriram uma atmosfera sombria, mas cativante e maravilhosa, que viria a tornar-se bastante distintiva.
A Disney deu-lhe a oportunidade de conceber “O Estranho Mundo de Jack” e, na sequência do sucesso retumbante de Jack Skellington — também este actualmente ícone do mundo do marketing — viria a dar vida a outros personagens fantásticos e únicos em filmes como “Beetlejuice”, “Eduardo Mãos de Tesoura”, “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”, “A Noiva Cadáver” e o remake do clássico “Charlie e a Fábrica de Chocolate”.
A sua interpretação de “Sweeney Todd” veio revolucionar o género musical e valeu-lhe um Óscar em 2008 na categoria de Direcção Artística. Mais recentemente, a Disney proporcionou-lhe novamente a oportunidade de nos brindar com uma original, inventiva e colorida interpretação da “Alice no País das Maravilhas”.
Nascida em 1965, Joanne Rowling é uma escritora, guionista e produtora cinematográfica britânica, famosíssima por escrever a deliciosamente imaginativa série de livros Harry Potter, vencedora de inúmeros prémios e com mais de 500 milhões de cópias vendidas.
À semelhança de Tolkien, Rowling criou um universo paralelo detalhado e complexo onde reina a magia e monstros fantásticos, povoado por personagens como Harry Potter, Hermione e Ron, ou Hagrid, Dumbledore, Professor Snape ou Voldemort.
Curiosamente, Rowling viveu em Portugal nos anos 90, onde leccionou inglês, e viria a casar-se com um português, de quem teve uma filha.
O tão temido bloqueio
Todas estas personalidades que destacamos — cientistas, escritores, músicos, pintores, inventores e até realizadores — mudaram e moldaram, ou inspiraram e continuam a inspirar o mundo e as pessoas.
Parecem ter nascido com uma fonte inesgotável de criatividade!
Pois saiba que também eles terão passado por momentos difíceis nos quais não conseguiam criar. Dolorosos períodos estéreis, em que as ideias teimavam em não surgir ou não eram capazes de dar corpo às ideias que apareciam.
Até os mais prolíficos criadores em algum momento perderam de vista a sua “musa inspiradora” ou, mais simplesmente, a inspiração.
Ou experimentaram o conhecido bloqueio criativo, em inglês “writer’s block” ou bloqueio do escritor.
As pessoas que se destacam pela sua criatividade, e até aquelas cujas ideias são a sua vida e sustento, também podem passar períodos mais ou menos longos em busca da inspiração…
Por exemplo, o escritor de thrillers Graham Greene (autor de “Oriente-Expresso” e “Um Lobo Solitário”) tinha um diário onde registava os seus sonhos para o ajudar a evitar o bloqueio criativo.
Maya Angelou (escritora e poetisa autora de “Sei porque canta o pássaro na gaiola”) disse: “Suponho que por vezes fico “bloqueada”, mas não gosto de lhe chamar isso. Dar-lhe nome parece atribuir-lhe mais poder do que eu quero que tenha. O que tento fazer é escrever. Posso escrever durante duas semanas (…) e pode ser apenas a coisa mais aborrecida e horrível. Mas eu tento.”
Já John Steinbeck (autor de clássicos como “A Leste do Paraíso” e “As Vinhas da Ira”) afirmou: “Esqueça o seu público em geral. Em primeiro lugar, o público sem nome e sem rosto vai assustá-lo de morte (…). Por escrito, o seu público é um único leitor. Descobri que por vezes ajuda escolher uma pessoa — uma pessoa real que conhecemos, ou uma pessoa imaginária, e escrevermos para essa pessoa.”
Quer saber mais sobre como estimular a criatividade? Leia a segunda parte “A criatividade nasce connosco ou exercita-se?”, aqui!
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