Os seus sintomas incluem incapacidade de concentração, distracção fácil, hiperactividade, fraca capacidade de organização e impulsividade.
Falamos da PHDA, Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção, frequentemente associada às crianças, mas a verdade é que afecta tanto os adultos como as crianças. Afinal, todos os adultos já foram crianças, certo?
No entanto, nem todas as pessoas têm todos estes sintomas, variam de pessoa para pessoa e mudam com a idade — as pessoas com PHDA podem sentir uma diminuição dos seus sintomas à medida que adquirem cada vez mais maturidade, mesmo que não desapareçam completamente.
Nesta série de três artigos, propomos explorar a forma como a PHDA afecta as pessoas no local de trabalho, aprofundando o mundo das pessoas com esta condição, o seu impacto em contextos profissionais, os desafios mais comuns, mas também os pontos fortes únicos que ela nos traz.
Tenha em mente que estas diferenças não definem limitações — apenas destacam os aspectos únicos de um cérebro com PHDA! 😊🧠
As pessoas ditas “neurotípicas” não compreendem as dificuldades no local de trabalho no que diz respeito à memória, à concentração e às distracções, porque não vêem a luta interior, tudo se passa dentro da mente da pessoa com PHDA.
Por exemplo, não me vão ver constantemente a agitar as mãos nem a saltitar por aí, isso é generalizar. 😹😹
Aparentemente, sou bastante calma… Pelo menos, sou vista como uma pessoa tranquila. Ninguém vê o caos que carrego dentro de mim ou as pernas que balançam constantemente por baixo da mesa.
Sou a pessoa que se recorda de todos os ínfimos detalhes de um evento passado há 10 anos, mas não se lembra porque é que acabou de entrar na sala…
Sou a pessoa que vai a uma festa e quer muito usar aquele vestido especial que a favorece… mas descobre que está no cesto da roupa suja, por isso, lava-o de imediato — lembrando a si própria várias vezes de que tem de se lembrar de estender o vestido, senão será tudo em vão.
Enquanto espera que a máquina de lavar roupa termine o seu ciclo de lavagem, começa a fazer o almoço. Vai ao quarto chamar o filho para almoçar e repara que ele tem muita roupa para dobrar e arrumar. Começam a dobrar a roupa dele, fazem a cama, enquanto conversam, e quando se lembra do almoço a comida já está fria…
Quando acabam de almoçar, ao colocar os pratos no lava-loiça repara na roupa ainda dentro da máquina… Apressada, vai estender a roupa na janela, quando vê um vizinho a passear o cão lá fora. Enquanto responde ao cumprimento do vizinho com um aceno, lembra-se de que os seus próprios cães ainda não almoçaram.
Assim, esquecendo a roupa molhada na bancada da cozinha, trata de servir-lhes a ração. Enquanto observa os seus patudinhos a almoçar, lembra-se de que precisa de comprar ração. Será péssimo se deixar a ração acabar, certo? Portanto, senta-se ao computador para fazer a encomenda e, enquanto isso, repara que ainda tem uns e-mails por responder e alguns eram urgentes… Não vá esquecer-se de responder a seguir, é melhor tratar já disso! Repete a si mesma várias vezes que depois tem de voltar para o site e confirmar a encomenda de ração.
Sentada em frente ao ecrã, repara na sua pasta de trabalho em curso e lembra-se de que tinha prometido à sua chefe terminar aquele artigo urgente no fim-de-semana. É Domingo, é melhor tratar já disso… E a tarde voa.
Passadas algumas horas a teclar furiosamente, o marido liga e pergunta se está pronta para a tal festa… Em pânico, corre para o estendal para apanhar o tal vestido apenas para descobrir que, na realidade, nunca chegara a estendê-lo.
Pior, nem estendeu vestido, nem respondeu aos e-mails, nem confirmou a encomenda de ração. Mas está absolutamente estafada, e a sentir-se dispersa e incapaz. Esta sou eu, é o filme da minha vida.
Com PHDA diagnosticada desde a infância, sou frequentemente confrontada com ideias preconcebidas e mitos relacionadas com esta condição.
Não se trata de uma deficiência intelectual — isso é um mito!
No meu caso, sempre estive entre as melhores alunas da turma. Sim, pode dificultar a aprendizagem, uma vez que afecta as pessoas de forma diferente, e porque a capacidade de atenção e QI também desempenham um papel importante.
Muitas pessoas com PHDA não atingem a maturidade emocional de um jovem de 21 anos até chegarem aos 30, mas uma eventual falta de apoio do núcleo familiar e/ou do sistema educativo tem uma quota-parte da culpa.
É verdade que, como adultos, podemos ter mais dificuldade em organizarmo-nos ou em memorizar e interiorizar instruções, compromissos e tarefas. Para alguns, será até difícil manter um emprego estável, mas outros podem destacar-se na carreira que escolheram!
Não só porque chegar ao trabalho a horas e ser produtivo no trabalho pode ser especialmente desafiante, mas também porque as coisas tendem a perder o encanto muito rapidamente: tudo começa por ser extra “fantástico”, mas esse entusiasmo inicial rapidamente se desvanece…
Muitos, como eu, têm a sorte de ter conseguido um emprego que adoram, rodeados de pessoas que compreendem as nossas incapacidades e pequenas peculiaridades. E pessoas que nos apoiam, valorizando os nossos pontos fortes e capacidades especiais, para que tenhamos carreiras estáveis e prósperas.
Há desafios. Por exemplo, estou constantemente com medo de fazer asneira — mesmo que não cometa assim tantas asneiras. Estou traumatizada pela minha adolescência e início da idade adulta, e nunca sei quando algo vai correr mal, por isso, posso ser um pouco paranóica… 👽 👽
Se a minha chefe me diz que vamos ter uma reunião no Zoom em breve, mas é vaga quanto aos tópicos a abordar, pergunto-me o que fiz de errado. No entanto, até à data, nenhuma reunião teve como objectivo repreender-me a mim ou a nenhuma das colegas!
Muitas vezes, parto do princípio de que, a qualquer momento, serei apanhada de surpresa por algum erro que não sabia que tinha cometido, ou algo que fiz ou que me esqueci de fazer.
Como profissional de tradução e revisão há mais de duas décadas, criei as minhas próprias estratégias, métodos e mnemónicas para ser precisa e eficiente, e para cumprir prazos: e cumpro. 👩🏻🦰 💼
Com os meus 20 anos, trabalhei como secretária de um advogado proeminente e inventei um método para organizar as suas prateleiras recheadas de pastas de arquivo morto desorganizadas; criei um sistema para manter a minha secretária limpa em vez de acumular o trabalho no meu tabuleiro como muitos colegas de trabalho faziam; simplifiquei muitos processos demasiado complicados.
Ele nunca soube porque é que eu precisava de fazer tudo no momento em que chegava à minha mesa: a verdade é que tinha de o fazer para não me esquecer OU para não me esquecer das instruções!
Não sou pessoa de procrastinar — não me posso dar a esse luxo.
E não se trata apenas de um problema de memória a curto prazo (a minha memória a longo prazo é muito boa!), a minha capacidade de atenção e a impulsividade também são problemáticas. De mal a pior. 😬 🔥
Por exemplo, é frequente enviar uma mensagem de correio electrónico a fazer uma pergunta às colegas por impulso, mas acabo por descobrir a resposta meio segundo depois… Digamos que muitas vezes gostava que a vida tivesse um botão de “retroceder”. 🔙
Com efeito, muitas pessoas com PHDA demonstram níveis de resiliência muito elevados, o que é um forte indicador de sucesso.
A auto-regulação é também uma aliada! Os indivíduos com PHDA aprendem a ter consciência de si próprios e a ser autónomos, aperfeiçoando a sua capacidade de gerir emoções e comportamentos. Podem também tornar-se muito bons a “ler” as pessoas. E, por experiência própria, ler as pessoas é um trunfo que pode ser utilizado em muitos contextos!
Amo ler e aprender coisas. Desde muito cedo descobri que, se conseguisse perceber como as coisas funcionam e porque é que acontecem, era mais fácil aprendê-las do que se as tentasse memorizar. E as minhas notas eram boas, mas se tivesse de memorizar coisas para as repetir, a minha mente ficava em branco…
Apesar dos contratempos, era muito inventiva, e desde cedo percebi que podia criar mnemónicas para me ajudar a memorizar as coisas e códigos de cores para me ajudar a estudar. Ainda uso estes truques todos os dias.
Por exemplo, ao ter de decorar a tabuada em criança, apercebi-me de que, se conseguisse perceber como funcionava, poderia fazer os cálculos quando me pedissem e ninguém suspeitaria que eu não sabia as respostas de cor. Por isso, era excelente a recitá-la de 1 a 10 e de trás para a frente, mas nunca a soube de cor. 🧮
Quando era adolescente e jovem adulta, sendo muito inventiva, criativa e prolífica, iniciava frequentemente “projectos” pessoais com um entusiasmo monstruoso, investindo todo o meu tempo, esforço e até dinheiro, até que… do nada, perdia o interesse. Tentava forçar-me a seguir em frente, mas acabava sempre por deixar as coisas incompletas até mergulhar na minha próxima ideia brilhante! 💡
Essa inconstância desaparece com a maturidade, à medida que crescemos e ficamos mais velhos.
Como professora, na casa dos 30, tive bons resultados com os alunos porque apliquei a minha própria experiência no ensino. Certificava-me de que eles compreendiam em vez de memorizarem; e mesmo que não gostassem das matérias, podiam pelo menos identificar-se com o que estavam a aprender, através de exemplos práticos retirados da sua própria realidade; e ajudava-os a criar mnemónicas para as coisas que precisavam de aprender de cor.
Estes métodos revelaram-se eficazes com alunos com necessidades especiais e acabei por me especializar em alunos com PHDA, dislexia e também com outras dificuldades de aprendizagem ou cognitivas.
Hoje em dia como tradutora, revisora e copwriter, também é a PHDA o combustível por trás do fonte incessante de imaginação e ideias para artigos, publicações, estratégias e soluções, etc.
Se a PHDA me trouxe, e traz até hoje, desafios? Sim, é inegável. Mas também me ajudou ao longo dos anos.
Se não baixarmos os braços, podermos transformar um problema numa solução.
Enquanto aguarda a segunda parte do nosso emocionante artigo, navegue no nosso website para conhecer os nossos serviços profissionais de tradução e transcriação, os nossos serviços profissionais de revisão e os nossos serviços profissionais de redacção:
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